Superando desafios com treinamentos que previnem mortes pela Raiva

 

Daniel Stewart da GARC, um especialista em comportamento e manejo de cães, relata suas experiências pessoais sobre seu recente trabalho na Etiópia.

Em maio de 2017 foi minha terceira visita à Etiópia para treinar, encorajar e continuar os esforços de uma equipe multidisciplinar da Ohio State University (OSU), Centres for Disease Control and Prevention (CDC) e a Aliança Global para o Controle da Raiva -  Global Alliance for Rabies Control (GARC). Mesmo com o projeto já em andamento há algum tempo, meu envolvimento direto com o projeto se iniciou em agosto de 2016 quando foi solicitado à GARC para treinar 25 funcionários de departamentos veterinários e da Saúde humana do governo da Etiópia. Chegaram 30 pessoas,  agosto estava úmido, com a estação de chuva em pleno andamento e as condições de trabalho nas ruas de Addis Ababa estavam bem desagradáveis.

Apesar disso, ao longo de 10 dias, cobrimos o seguimento dos casos de mordidas, lendo a linguagem corporal e avaliando o comportamento dos cães, bem como o uso de equipamentos de captura humanizados. Este equipamento seria usado em futuras campanhas de vacinação em massa. Os médicos veterinários de OSU e CDC também mostraram aos participantes métodos corretos, eficazes e humanos de vacinação e eutanásia. Os cursos on-line com certificado GARC Rabies Education e do Certificado de Manipulação e Vacinação de Animais foram importantes ferramentas de treinamento. A equipe deixou a Etiópia tendo feito novos amigos e esperançosos embaixadores na luta contra a Raiva.

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Participantes orgulhosos do governo da Etiópia com seus certificados da REC e AVC. Foto: Rick Harrison, Ohio State University

Continuamos treinando em dezembro de 2016, quando o período na Etiópia foi estendido para 3 semanas. O clima era muito mais seco, mas a corte de pessoal previamente treinado aumentou e mudou, o que apresentou alguns desafios. Conseguimos executar  o uso de pontos de vacinação fixos, pequenas campanhas de vacinação porta a porta, bem como pesquisas de revacinação em torno de duas sub-cidades separadas. A pesquisa de alternação foi um começo para descobrir o número aproximado de cães na cidade de Addis Abeba. Esta primeira pesquisa de 3 semanas certamente não finalizou a avaliação do tamanho da população, mas deu a equipe e ao governo etíope uma estimativa inicial. O número de cães vacinados foi baixo, mas o ganho de experiência para os etíopes excedeu minhas expectativas.

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Um grupo de cães morando nas ruas com pessoas sem moradia. Foto: Daniel Stewart

Minha viagem seguinte à Etiópia foi em maio de 2017, quando um dos nossos membros originais da equipe de CDC teve que ser substituído por ter seus compromissos com outro surto de doença. No entanto, como sempre, as três organizações se juntaram e conseguiram realizar um período de treinamento bem sucedido. Esta viagem teve muitos desafios, com 5 cães positivos para Raiva que tiveram que ser eutanasiados nas ruas de Addis (com um destes cães sendo visto mordendo uma pessoa do público na nossa frente).

Aprendemos as verdadeiras dificuldades de obter tratamento na Etiópia para vítimas de mordida de cães, quando tivemos que buscar vacinas de reforço para 5 membros da equipe que receberam mordidas de cães (por precaução, não por causa de uma mordida de cão com Raiva positiva). Também tivemos preocupações muito sérias quanto ao  bem-estar animal e quanto ao saneamento extremamente pobre em algumas partes da cidade.

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Filhote mantido em gaiola durante toda sua vida. Foto: Daniel Stewart

Durante esta visita vacinamos 5.500 animais, dividindo uma equipe de 24 participantes treinados em 4 grupos de 2 médicos veterinários, 2 técnicos na contenção animal, 2 escriturários para os certificados e além disso 1 pesquisador e coordenador de equipe, seja da  GARC, CDC ou OSU, a cada sub-equipe. Em uma área, encontramos uma grande concentração de gatos vivendo próximos a cães e seres humanos, assim vacinamos um percentual relativamente elevado de gatos.

Os aspectos práticos do trabalho e a superação dos desafios no campo podem ser assustadores e muitas vezes levam ao fracasso e ao cancelamento de importantes campanhas de vacinação. No entanto, com treinamento profissional e organizações trabalhando em conjunto com os funcionários de base, ficou claro que a confiança para superar qualquer obstáculo pode ser construída.

Traduzido por Phyllis Romijn, M.V., PhD, pesquisadora cientifica pela PESAGRO-RIO, Brasil

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Uma equipe de vacinação boa e eficaz. Foto: Daniel Stewart