Resposta a “Uma forma melhor visando o controle da Raiva na Índia?”

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Dra Andrea Britton, Dra Helen Byrnes, e Dra Thinlay Bhutia comentam sobre um artigo do informativo da GARC da última edição que descreve a intervenção de Raiva Tamil Nadu e o estudo de modelagem custo-eficácia por Fitzpatrick et al. em PNAS Dezembro 2016.

Uma modelagem quantitativa do papel da vacinação da população de cães usando dados locais da Índia é valiosa e demonstrou a maior relação custo-benefício de uma estratégia de vacinação de cães mais abrangente que incluiu a vacinação de cães de vida livre (em comparação com a estratégia de base atual focada no fornecimento de PEP e vacinação de 34% da população de cães domiciliados). O documento será um recurso útil para os decisores políticos que planejam a eliminação da Raiva na Índia, no entanto, gostaríamos de chamar a atenção para alguns elementos do documento.

Em primeiro lugar, embora as conclusões do estudo se apresentam claramente no informativo da GARC, estamos preocupados com o fato de que algumas ambigüidades no resumo do documento podem ter levado a percepções errôneas sobre os resultados. Seria muito lamentável se a frase "Descobrimos que as estratégias altamente viáveis focadas em cães errantes, vacinando apenas 7% de cães por ano, poderiam reduzir de forma econômica as mortes por Raiva humana em 70% dentro de 5 anos e uma expansão modesta de 13% da vacinação dos cães de rua poderia reduzir de forma econômica a Raiva humana em quase 90%" foi interpretado como se apenas 13% dos cães precisam ser vacinados. Em realidade, o artigo argumenta que a vacinação de 7-13% adicionais de cães errantes, além dos cães  domiciliados submetidos a vacinação (34%) poderiam efetivamente reduzir a Raiva humana em quase 90%. Alguns novos relatos já demonstraram confusão entre as recomendações do modelo para os níveis de vacinação em todo o estado e em toda a Índia.

Em segundo lugar, é importante notar que as conclusões são baseadas na modelagem e os pressupostos contidos no modelo afetarão os resultados. Alguns dos pressupostos precisam de um exame mais aprofundado. Por exemplo:

  •  Os autores não fornecem nenhum comentário sobre a metodologia e a consequente confiabilidade do 19º Censo da Pecuária - 2012 utilizado para estimar a população de cães errantes. O modelo assume uma população fechada com proteção perfeita ao longo da vida.
  •  Imunidade contra a Raiva após uma dose de vacinação, com uma meia vida de cão assumida para 3 anos. As populações de cães de vida livre não são fechadas, particularmente se houver alta rotatividade populacional, no entanto, após a implementação de programas de gestão da população de cães em Sikkim, Índia e em comunidades indígenas remotas na Austrália, a vida útil dos cães de vida livre geralmente é maior que três anos.
  • O modelo assume que equipes de 4 pessoas vacinam um máximo de 120 cães por dia. No programa de vacinação estadual de 2016 em Sikkim, equipes de 2 pessoas vacinavam entre 91-235 cães por dia, dependendo da densidade populacional. Esta diferença na captura de cães e números de vacinação contra a Raiva entre Tamil Nadu e Sikkim tem implicações significativas em custos e vale a pena explorar mais.

Os pressupostos de um modelo são críticos para interpretar suas descobertas. Congratulamo-nos com esta análise do controle da Raiva em Tamil Nadu e sugerimos que dados recentemente publicados do estado de Sikkim poderiam melhorar ainda mais a parametrização do modelo. É vital que na Índia os decisores políticos não reduzam os investimentos em relação aos níveis atuais de vacinação contra a Raiva canina e outras intervenções recomendadas no quadro global para a eliminação da Raiva humana transmitida por cães, mas aumentem os investimentos para alcançar alvos adicionais de vacinação para cães de vida livre".

Dra Andrea Britton e Dra Helen Byrnes são Diretoras de Médicos veterinários sem fronteiras (Vets Beyond Borders), Austrália e Dra Thinlay Bhutia, trabalha com o programa SARAH em Sikkim, Índia.

Traduzido por Phyllis Romijn, M.V., PhD, pesquisadora cientifica pela PESAGRO-RIO, Brasil