Vinculando a pobreza aos modelos de propriedade do cão, diminui as estimativas da população de cães

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Mapa de risco da Raiva em Uganda publicado no estudo. Áreas em vermelho mais escuro representam alta densidade de cães não vacin

Em um artigo recente na revista “Infectious Diseases of Poverty”, os pesquisadores publicaram um novo modelo mais abrangente para estimar a população de cães que faz considerações como a variabilidade nos níveis de pobreza e densidade populacional humana pode impactar a propriedade do cão e a cobertura de vacinação contra a Raiva. Usando esses novos modelos, os pesquisadores estimaram que atualmente os níveis da população de cães em Uganda eram muito menores do que os previamente definidos. Esta diminuição nos níveis previstos de população de cães - se validada - pode influenciar fortemente na compreensão atual do peso que a Raiva representa para a África e a viabilidade da eliminação da Raiva nesta região.

Os novos modelos de população de cães foram desenvolvidos utilizando os resultados do conhecimento, atitudes e práticas (knowledge, attitudes and practice-KAP) realizada em 24 aldeias em Uganda com diversos níveis de pobreza, práticas de propriedade de cão e densidade populacional. Os resultados representam 798 famílias, e as análises levaram em consideração diversas variáveis, incluindo os níveis de pobreza (calculados a partir da porcentagem de pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza internacional de US $ 1,25 por dia), densidade populacional, tamanho do agregado familiar e nível de atendimento de cães.

Após a coleta de dados, os modelos, construídos usando regressão logística multinível, foram utilizados para prever a cobertura de vacinação e população de cães para todo o país. Os pesquisadores descobriram que a obtenção de projeções precisas das populações de cães pode não ser tão direta quanto simplesmente aplicar a proporção geral de humanos:cães e números de população em todo o país. Em vez disso, o nível de pobreza e a densidade populacional humana para uma região também devem ser considerados para aproximações mais precisas da população de cães.

Os resultados do estudo KAP mostraram que a propriedade do cão era menor em áreas de alta pobreza/ baixa densidade populacional (pobres/ rurais), menores em baixa pobreza/ alta densidade populacional (afluentes/ urbanas), mas maiores em alta pobreza / alta densidade populacional (pobres/ urbanas). Quando esses fatores foram incorporados em um modelo de regressão multivariada, o número estimado de cães em todo o país também caiu. Depois de ajustar a pobreza e a população humana, à proporção humano:cão foi de 47:1, e o número total de cães em Uganda foi de 729.486 cães. Isso representa uma queda de duas vezes em relação às estimativas da população baseadas unicamente na proporção humana não ajustada:cão de 25:1, o que dá um tamanho de população de cães de 1.373.844.

Além disso, quando a pobreza foi considerada, as taxas de vacinação contra a Raiva também apresentaram queda significativa, de 57% não ajustadas para 35,4% de cobertura global a nível nacional. Os pesquisadores usaram as estimativas modeladas da densidade populacional de cão e da cobertura da vacinação para determinar onde, em Uganda, o risco de Raiva seria maior (ver figura). As áreas onde existem menos de 4 cães/ km2 (áreas pretas na figura) e as áreas onde mais de 70% dos cães foram vacinados (áreas verdes na figura) foram presumidas como não serem capazes de sustentar a transmissão da Raiva. Para outras áreas, tons cada vez mais escuros de vermelho indicam um maior risco de Raiva para as pessoas que vivem lá. Essas estimativas modeladas mostraram que quase 90% dos ugandeses vivem em comunidades onde a transmissão da Raiva enzoótica é possível e destaca onde os recursos de vacinação contra a Raiva são mais necessários.

Este estudo foi um dos primeiros a mostrar como os níveis de pobreza afetam os níveis da população de cães, mas uma validação adicional desses modelos deve ser realizada para garantir que as estimativas obtidas através desses métodos sejam precisas. Em particular, este modelo não inclui cães sem dono, o que não pode ser estimado com precisão a partir de uma pesquisa KAP. As previsões da população desenvolvidas aqui criam uma compreensão mais refinada do padrão de distribuição de cães em Uganda, conhecimento que pode ser usado para aprimorar as atuais estratégias de vacinação, mas não pode ser usado para substituir o conhecimento adquirido através da vigilância rotineira da Raiva.

Mesmo assim, entender que a pobreza afeta as populações de cães e o risco de Raiva, criando um padrão de distribuição não uniforme será essencial ao planejar e implementar esforços de controle da Raiva em países africanos com altos níveis de pobreza. Essas descobertas devem permitir campanhas de vacinação mais eficazes contra a Raiva, bem como permitir que os recursos de controle da Raiva sejam direcionados para regiões onde terão maior impacto para resultados mais efetivos.

Enviado por Laura Baker, GARC, resumido de "O impacto da pobreza na propriedade de cão e o acesso à vacinação contra a Raiva canina: resultados de uma pesquisa de conhecimento, atitudes e práticas, Uganda 2013" de Wallace et al. na revista “Infectious Diseases of Poverty” (2017) 6:97.

Traduzido por Helena BC Ruthner Batista,PhD, pesquisadora cientifica pelo Instituto Pasteur de São Paulo e colaboradora do Programa de Pos-graduação em Biossistemas da Universidade Federal do ABC